Padres de São João da Aliança e de Alvorada do Norte também são investigados no escândalo de desvios de dízimos dos fiéis

Ao menos dois padres dos municípios de Alvorada (GO) e São João d’Aliança (GO) estão na mira do Ministério Público de Goiás (MPGO) e da Polícia Civil do estado, na segunda fase da Operação Caifás. 


Deflagrada em 19 de março, ela investiga um suposto esquema milionário de desvio de doações e taxas pagas por fiéis católicos do Entorno do Distrito Federal.


Um dos religiosos mora em São João d’Aliança, a 160km de Brasília. Ele é suspeito de vender uma caminhonete que estava em nome da mitra, o centro administrativo da diocese de Formosa. Com um pouco mais de dinheiro, comprou um novo veículo e o transferiu para o próprio nome, segundo a investigação do MPGO, a qual o Correio teve acesso com exclusividade.


Além de documentos, os promotores se baseiam em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. “Outro padre, de Alvorada, é citado em várias conversas. Ele teria comprado diversos móveis em nome da Igreja. Alguns, ele teria revendido. Outros estariam em seu apartamento pessoal. Há mais padres sob investigação”, afirma o promotor Douglas Chegury, à frente da Caifás.


Lavagem de dinheiro


O atual estágio das investigações se aprofunda no suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio da lotérica de Posse (GO), de propriedade do padre Moacyr Santana, pároco da Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Formosa (GO), segundo os investigadores. 


O estabelecimento, considerado de pequeno porte, movimentou R$ 8 milhões nos últimos dois anos.


Na apuração sobre a lotérica de Posse, o MPGO oficiará à Caixa Econômica Federal, na próxima semana, para que o banco forneça parâmetros de transações em estabelecimentos semelhantes. “Como o estabelecimento fica em uma cidade mais afastada, pode ser que esteja ocorrendo lavagem de dinheiro de outras localidades”, explicou Chegury.


O Centro de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Banco Central enviou um documento ao MPGO alertando o órgão das transações com altos valores na lotérica de Posse. 


Segundo o promotor, mensalmente, os dois empresários apontados como laranjas do padre Moacyr faziam depósitos acima de R$ 100 mil. As transações causaram estranhamento aos auditores do Coaf, que têm a função de registrar e acompanhar transação exorbitantes.


O Coaf anotou depósitos entre 13 de abril de 2015 e 9 de outubro de 2017. O primeiro foi de aproximadamente R$ 109 mil. O último, de cerca de R$ 194 mil. “Uma movimentação acima de R$ 50 mil acende a luz vermelha no Coaf. A soma é de R$ 8 milhões em dois anos. 


Temos que saber o motivo da movimentação tão expressiva. De onde veio? De jogos? Pode ser que esteja ocorrendo lavagem de dinheiro ou pessoas estão sonegando valores, ou pode ter origem em negociações espúrias”, supõe Chegury.



O Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO) vai levantar a situação dos 162 veículos em nome da diocese de Formosa.


 “A suspeita é de que eles eram vendidos e o dinheiro não entrava de volta nos cofres da Igreja. E são cinco vezes mais veículos que paróquias ! Vamos identificar onde esses bens estão, quem os adquiriu, por que não foram transferidos, quais condições da negociação”, observou Chegury.


A relação dos veículos foi apreendida na casa de um dos suspeitos de envolvimento com o esquema, o secretário da Cúria de Formosa Guilherme Frederico Magalhães. 


Ele foi preso na operação e deixou a cadeia há uma semana. Os outros oito detidos continuam no Presídio de Formosa, graças à conversão da prisão temporária (de cinco dias) em preventiva (sem previsão). 

Entenda o caso: Desvio, mesada, luxo e intervenção


As investigações começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada de dom José Ronaldo, em 2015. 


Deflagrada em 19 de março, a primeira etapa da Caifás resultou na prisão do bispo de Formosa (GO), dom José Ronaldo Ribeiro, do vigário-geral, Epitácio Cardozo Pereira, do pároco da catedral, de outros três padres, além dos dois empresários e do secretário da Cúria. 


Todos são acusados de desviar dinheiro da diocese do município do Entorno do DF e usar uma lotérica em nome de laranjas para lavar os valores.


Policiais civis apreenderam R$ 148 mil em espécie, incluindo dólares e euros, além de outros bens, como cordões de ouro e relógios, na casa do monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, segundo na hierarquia da diocese. A Justiça bloqueou ainda R$ 388 mil da conta do padre Waldson José de Melo. 


A investigação aponta ainda que padres de Formosa, Posse e Planaltina pagavam ao bispo para que fossem mantidos em paróquias mais lucrativas. O valor mensal da “mesada” variava entre R$ 7 mil e R$ 10 mil.


A diocese de Formosa é responsável por 33 paróquias em 20 cidades e, desde o desencadeamento da Caifás, está sob comando de um administrador apostólico nomeado pela Santa Sé, o arcebispo de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto.


A relação dos veículos foi apreendida na casa de um dos suspeitos de envolvimento com o esquema, o secretário da Cúria de Formosa Guilherme Frederico Magalhães. 


Ele foi preso na operação e deixou a cadeia há uma semana. Os outros oito detidos continuam no Presídio de Formosa, graças à conversão da prisão temporária (de cinco dias) em preventiva (sem previsão). 


Nas escrituras


José Caifás era sumo-sacerdote do conselho de sábios judeus. Ele foi indicado ao cargo pelos romanos e participou do julgamento de Jesus Cristo no supremo tribunal dos judeus, o Sinédrio, e condenou Jesus Cristo à crucificação. Na Bíblia, sua história é narrada no livro de João, capítulo 18. São justamente os acontecimentos que resultam na morte e na ressurreição de Cristo, comemorada na Páscoa.


Fonte: CorreioWeb

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