13 dilemas para o jornalismo contemporâneo; há mais de 10 anos este Blog investe no jornalismo colaborativo

Por Carlos Castilho, Observatório da Imprensa

O que vocês lerão a seguir não é um texto normal, mas uma lista de temas para debate. Basicamente são três questões: novo engajamento social dos jornalistas, jornalismo local e a sustentabilidade financeira de projetos jornalísticos. Eles estão interligados e são parte do que chamamos de economia política do jornalismo (*).

Optei pela organização em itens porque a preocupação é instigar a interatividade entre vocês leitores. Mostrar a complexidade do contexto vivido pelo jornalismo e a necessidade de ver como as peças deste desafio se relacionam.  Seguem os itens selecionados que podem ser ampliados ou reduzidos, já que este é apenas um primeiro esforço:

  1. A atividade jornalística está em crise por conta do esgotamento do modelo tradicional de negócios que garante a lucratividade de empresas no setor da comunicação;
  2. Em todo mundo, a crise está provocando o fechamento em massa de veículos de comunicação jornalística e provocando o maior índice de desemprego da história do jornalismo;
  3. A crise afeta a sustentabilidade de projetos jornalísticos, o que leva a necessidade de rever a base da inserção da profissão na economia política  do jornalismo;
  4. Os desdobramentos do processo de digitalização da informação e a universalização da internet estão mudando os principais pilares de sustentação econômica da imprensa, entendida como conjunto de empresas lucrativas cujo negócio é a troca de notícias por receitas publicitárias. 
  5. A sustentabilidade de jornais, por exemplo, passa agora, na era digital, a depender da diversificação de usuários capazes de pagar pela informação, o que implica a mudança da agenda noticiosa da imprensa. 
  6. Isto significa focar na grande massa da população que até agora estava marginalizada na agenda da imprensa, dominada por notícias ligadas aos interesses políticos, empresariais e culturais da elite;
  7. A diversificação das audiências e da agenda noticiosa cria a necessidade de uma nova relação dos jornalistas com o público. A internet, e principalmente as redes sociais, ampliaram enormemente a diversidade de abordagens dos problemas e necessidades do público.
  8. Para poder gerar fluxos informativos capazes de gerar conhecimentos locais (solução de problemas locais), o jornalista precisa se engajar nas comunidades;
  9. O engajamento cria uma relação de parceria entre profissionais da notícia e o seu público-alvo. Uma parceria com duas características: manter a comunidade informada através de relação colaborativa e obter desta mesma comunidade meios capazes de garantir a sustentabilidade financeira do projeto. Sustentabilidade entendida aqui não apenas como aporte de dinheiro, mas de todos os meios não monetários necessários (voluntariado, trocas, etc.);
  10. A diversificação da agenda inevitavelmente aumenta a relevância do jornalismo praticado localmente, uma modalidade que tradicionalmente tem sido menosprezada. Nesta nova conjuntura criada pela digitalização e pela internet, o jornalismo local passou a ter importância estratégica porque traz para a o espaço público de debates segmentos do público marginalizados pela agenda elitista da imprensa tradicional. 
  11. O jornalismo local é o ambiente que mais favorece o engajamento dos profissionais do jornalismo com seu público-alvo. Daí a necessidade de repensar as estratégias tanto editoriais como financeiras das publicações focadas no local.
  12. A busca de novos modelos de sustentabilidade financeira é considerada o mais complexo de todos os dilemas atuais da profissão. Já há consenso de que cada projeto terá seu próprio modelo e que a sustentabilidade deve ser pensada já nos planos iniciais de um empreendimento jornalístico. Alguns temas a serem polemizados: a “uberização” do jornalismo, a governança de projetos noticiosos e o papel dos sindicatos no jornalismo digital. 
  13.  Esta relação de temas para debate configura a necessidade de uma abordagem dentro do campo da economia política do jornalismo.

(*) A economia política do jornalismo estuda as relações entre a informação, comunicação, contexto econômico e conjuntura política num contexto digital. Para maiores detalhes veja em: O Jornalismo e a Nova Economia Política da InformaçãoJournalism is a Public Good. Let the Public Do ItThe Critical Political Economy of the Media ou Political Economy of Journalismeditado e publicado pela Universidade Federal do Piauí, em parceria com universidades europeias.

Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.

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Em complemento ao artigo de Carlos Castilho, é importante informar que o Blog Dinomar Miranda foi criado há 15 anos, em 2006, dentro das perspectivas no novo jornalismo.

O canal de notícias tem perfil regionalizado, com foco no sudeste do Tocantins, nordeste de Goiás e Oeste da Bahia.

Tem fundamento no jornalismo cidadão, também conhecido como Jornalismo Colaborativo, Jornalismo Democrático ou ainda Jornalismo Open Source (código fonte aberto), voltado para o empoderamento das pessoas, da transparência da coisa pública e para o voluntarismo.

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